quarta-feira, 23 de junho de 2010

Aprendendo a enxergar as pessoas


Hoje de manhã, caminhando pelas ruas da minha cidade, deparo-me com um grupo incomum e ao mesmo tempo tão familiar para mim. Eram pacientes que eu atendi durante meu estágio enquanto ainda era estudante de Psicologia. Até ai, nada de fascinante.

Chamou-me a atenção a última integrante que passou por mim. Abriu um sorriso e com um protagonismo jamais visto enquanto eu trabalhei com ela, respondeu-me "Tudo bem!".
Durante um ano e meio de trabalho junto à instituição, posso dizer que raramente vi um sorriso tão genuinamente livre e uma naturalidade tão espontânea nessa pessoa.

Ela, antes "deprimida", desacreditada, apagada e sufocada pelas paredes da instituição, parou de investir na própria vida e passou a esperar dos profissionais, uma atitude que ela já não podia tomar.

Hoje, vejo apenas uma mulher caminhando pela rua. Uma mulher que conversa, que ri, que pensa... Num momento tão curto onde nos cumprimentamos, percebi que ela tentava me dizer que as coisas tinham melhorado para ela.

Pergunto-me, melhoraram? Talvez sim, talvez não.
Importante mesmo foi poder vê-la como alguém que produz, que deseja, que sente, que vive, que existe e que quer ser vista pelos outros, como qualquer um de nós.

Às vezes olhamos para as pesoas e vemos apenas seu sofrimento, suas queixas, suas negações e projeções, sua loucura ou lucidez, sua deficiência ou suas particularidades negativas. Esquecemo-nos que esse sujeito também é produtivo e espera poder (re)tomar seu protagonismo e continuar sua trajetória.

Olhar para essa pessoa apenas como uma mulher como qualquer outra, me fez perceber que não basta acolhermos o sofrimento, servirmos de apoio, auxiliarmos na reorganização desses sujeitos, precisamos também olhá-lo.
Olhá-lo de verdade, sabendo que cada um de nós possui potencialidades que muitas vezes estão esperando o olhar do outro para revelarem-se.

E você, já olhou para a pessoa que está do teu lado? Enxergou, de verdade?

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